Gestão eficiente no varejo alimentar: estratégias para minimizar perdas e desperdícios
Há aproximadamente 50 anos, Jean Baudrillard, sociólogo e filósofo francês, debateu com afinco e criticou o desperdício em sua obra intitulada A Sociedade do Consumo. Durante muito tempo na existência, os manuscritos históricos revelaram que a sociedade viveu com a escassez por longos períodos.
No entanto, o avanço do processo produtivo e da tecnologia, teoricamente, deveria ter invertido essa realidade, tornando a vida mais fácil e o acesso aos alimentos mais fácil ainda. Porém, na prática, as coisas não funcionam dessa forma.
O desperdício faz parte da realidade mundial?
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), atualmente, na medida em que 821 milhões de pessoas passam fome no mundo, um terço dos alimentos produzidos acaba sendo desperdiçado diariamente. É importante compreender que esse desperdício não ocorre somente na mesa do consumidor final, que está no fim da cadeia produtiva.
Na realidade, o descarte acontece, também, em outros momentos desse ciclo. O Brasil, nesse sentido, encontra-se na lista dos dez países que mais desperdiçam alimentos no mundo. As perdas chegam a aproximadamente 30% de tudo que é produzido para o consumo, gerando um prejuízo em termos econômicos de US$ 940 bilhões por ano.
Mais recentemente, em seu livro “Brasil: o país dos desperdícios”, publicado em 2018, o pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, José Abrantes, mostrou que os descartes realizados pelo país chegam a 150% do Produto Interno Bruto (PIB). Na colheita, por exemplo, o desperdício chega na casa dos 10%; no varejo, a perda é de 50%; e nos domicílios, de 10%.
Além disso, a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) divulgou dados que mostram que o desperdício de alimentos em 2020 chegou na casa de R$ 3,6 bilhões. Considerando a escala global, o varejo é responsável por 12% do desperdício de alimentos no mundo todo. A realidade, portanto, é que, no setor do varejo alimentar, as perdas e os desperdícios representam um desafio, além de afetar diretamente a renda do negócio.
Como minimizar perdas e desperdícios?
Em tese, a redução de perdas inicia-se com uma gestão bem estruturada. Isso inclui desde o planejamento de compras até a disposição dos produtos em prateleiras e câmeras frias do varejo. Nesse sentido, o primeiro passo é, sem dúvidas, investir em um controle rigoroso do estoque. Conhecer como a palma da mão o volume de entrada e saída de mercadorias é elementar para evitar desperdícios.
Hoje, é possível fazer uso de sistemas de gestão automatizados, que registram e acompanham cada produto que passa a integrar o estoque. Um método comumente utilizado é o PEPS, ou seja, o primeiro a entrar é o primeiro a sair. Este método, por exemplo, garante que os itens com validade mais próxima sejam priorizados na exposição e na venda.
Por conseguinte, outro aspecto importante é a organização do ambiente de armazenamento. De fato, armazenar produtos de forma correta, setorizada, acaba prevenindo danos e vencimentos, além de facilitar a reposição. Produtos secos, refrigerados e congelados devem ser separados e armazenados em temperaturas adequadas, conforme as recomendações dos fabricantes e as normas sanitárias vigentes.
É fundamental compreender que a validade dos produtos é um dos principais pontos nessa questão. Muitas das perdas acontecem em razão de as mercadorias vencerem antes de serem repassadas.
Desse modo, para lidar com o problema, o importante é adotar práticas diárias de conferência. Em casos nos quais a demanda seja baixa e o produto esteja perto do vencimento, o ideal é criar mecanismos que permitam essa mercadoria circular antes de ser perdida por descuido.
No que diz respeito ao armazenamento de produtos perecíveis, o uso de equipamentos adequados exerce papel central. Investir em sistemas de refrigeração modernos e eficientes é uma medida estratégica. Um freezer vertical, por exemplo, permite organizar melhor os alimentos congelados, otimizando o espaço físico do estabelecimento e facilitando a visualização dos produtos.
Esse pequeno detalhe contribui para que os itens não fiquem esquecidos no fundo do equipamento. Consequentemente, se reduz as chances de perda por deterioração ou vencimento. No fim, o desperdício é uma realidade latente do tempo presente, ligado a produção e distribuição de mercadorias em larga escala. A boa gestão no varejo possui a capacidade de afetar esse processo de forma positiva.