BNPL e Programas de Fidelidade: a nova cara do consumo no Brasil
*Por Rafael Rapp, diretor de Varejo da Dotz
O varejo brasileiro apresenta uma dinâmica cheia de nuances que refletem as mudanças econômicas e sociais do país. Apesar de 2024 ter sido um ano amplamente positivo para o setor,com alta expressiva de 4,7% nas vendas - o maior crescimento desde 2012 - impulsionado por fatores como a redução do desemprego e o eventual aumento da renda, os dois últimos meses do ano apresentaram desaceleração, com quedas consecutivas nas vendas de 1,4 % em novembro e 0,1% em dezembro. Este leve declínio sinalizou expectativas de uma perda gradual de força na economia, que se estenderia para o início deste ano.
Em janeiro o setor registrou um crescimento de 2,8% nas vendas, um indicador positivo em meio a um período marcado por desafios econômicos, como pressões inflacionárias e instabilidades no mercado global. Este aumento ganha relevância quando consideramos o contexto mais amplo da economia brasileira.
A redução nas taxas de desemprego contribuiu significativamente para a recuperação gradual do setor. Em 2024, o número de desempregados foi de 6,6%, o menor nível desde 2012, com uma redução de 1,1 milhão em relação a 2023. A interrelação entre emprego, renda e consumo forma a base do atual momento do varejo brasileiro, indicando um ciclo de recuperação.
Neste contexto, o "Buy Now, Pay Later" (BNPL) ou "Compre Agora, Pague Depois", tem ganhado espaço. No Brasil, o modelo mais parecido era o crediário, historicamente fundamental para democratizar o acesso a bens de consumo duráveis para milhões de brasileiros nas últimas décadas.
O BNPL promove a inclusão de pessoas com restrição ao crédito e não bancarizadas no país, oferecendo uma experiência de compra mais fluída e instantânea. De acordo com dados recentes, a aceitação do modelo no Brasil cresceu, passando de 11% para 18% no primeiro trimestre de 2024, um aumento expressivo em relação aos 3% registrados em 2022.
Estima-se que o volume de transações realizadas por meio dessa modalidade deve atingir US$ 10 bilhões somente em 2025. Este rápido crescimento reflete não apenas a mudança nos hábitos de consumo dos brasileiros, mas também a confiança em soluções financeiras digitais e a busca por outras opções de pagamento.
E não para por aí. Os programas de fidelidade também se destacam como ferramentas complementares que potencializam as vendas e melhoram a experiência do consumidor. As taxas de satisfação entre os usuários é de 72%, fazendo crescer também o aumento do interesse por marcas que oferecem esse benefício.
Isso porque eles não apenas oferecem benefícios diretos, como descontos e pontos, mas também podem proporcionar um alívio no orçamento familiar ao tornar as compras mais vantajosas. Fala sobre a fidelidade virando meio de pagamento, e o poder de compra como uma das principais alavancas de fidelização
A chave para o sucesso no setor está na capacidade de adaptação. Varejistas que conseguirem integrar eficientemente novas formas de pagamento estarão melhor posicionados para atender às necessidades de um consumidor cada vez mais consciente e exigente.
Para o consumidor, a educação financeira e o uso inteligente dessas novas ferramentas serão fundamentais para enfrentar o sobe e desce do cenário econômico. A combinação de compras mais inteligentes, facilitadas por programas de fidelidade, com o uso responsável de opções de pagamento flexíveis, pode ajudar as famílias brasileiras a otimizar seu orçamento e manter seu poder de compra.
O futuro do varejo brasileiro dependerá da capacidade de todos os atores - varejistas, consumidores e instituições financeiras - de trabalharem juntos para criar um ecossistema de consumo mais eficiente, justo e sustentável.