De Paraisópolis à Cidade de Deus, varejo consolida logística para além dos centros de distribuição
Quase 14 mil favelas em todo o Brasil, com 17,9 milhões de moradores (segundo dados da pesquisa Data Favela 2023). Esse é o público em potencial que o varejo busca alcançar ao estender suas entregas para as comunidades. Junto a startups de logística, as empresas reforçaram essa atuação desde a pandemia e, agora, seguem entregando na porta de moradores de favelas como Paraisópolis, Heliópolis, Diadema (SP), Cidade de Deus (RJ) e Jardim Teresópolis (MG). Essas são as comunidades onde a Americanas, por exemplo, atua com o “Americanas na Favela”. “A aceitação do público e o uso recorrente do serviço resultou em picos de entrega de 2 mil pedidos diários”, destaca a varejista, com exclusividade ao Jornal Giro News. A iniciativa permite que mais de 100 mil moradores recebam as compras feitas no e-commerce da Americanas, Shoptime e Submarino na porta de casa, através de parcerias com o G10 Favelas e a Favela Brasil Xpress. No entanto, a companhia afirma que o projeto está sendo revisitado, em função de sua reestruturação.
Capilaridade logística
Nos últimos anos, a Riachuelo saiu de 5 para 23 comunidades atendidas. “Em 2023, foram realizadas mais de 29 mil entregas nas comunidades, sendo 28.142 em São Paulo e 1.163 no Rio de Janeiro”, ressalta a rede. Segundo a varejista, o maior desafio logístico é conseguir ampliar essa capilaridade, mas junto às startups naPorta e Favela Brasil Express, a Riachuelo afirma seguir em constante estudo e mapeamento para atender cada vez mais regiões do país. Por sua vez, o Magalu atende 537 bairros periféricos e restritos em São Paulo e Rio de Janeiro, com aproximadamente 220 comunidades. “Iniciamos em 2023, realizando entregas através de lojas próximas das comunidades. São vendas realizadas por canais digitais, mas os produtos são expedidos de nossas lojas. Também realizamos entregas a partir de nossos centros de distribuição”, explica a rede. De acordo com o Magalu, considerando somente o formato de saída da loja, já foram feitas mais de 11 mil entregas em favelas.
Aprimoramento do serviço
Em 2023, de 10% a 15% das entregas da Casas Bahia foram feitas em comunidades. “Durante o período do dia 20 de novembro a 2 de dezembro, foram realizadas 1.600 entregas, com índice de 97% de performance”, complementa a varejista. Nos últimos três anos, devido ao surgimento dos parceiros especializados nesse tipo de logística, a rede garante ter ganhado mais agilidade na operação, o que facilitou e melhorou o serviço. O Grupo Casas Bahia conta com parceiras como a Favela Brasil Express, que, por sua vez, tem apoio do G10 Favelas. A logtech já entregou R$ 1 bilhão em mercadorias, em três estados – São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Agora, o foco da Favela Brasil Express é a criação de novos microcentros logísticos para ampliar as entregas para mais lugares.
Mercado em potencial
Para Gilson Rodrígues, presidente do G10 Favelas, bloco de líderes e empreendedores de impacto social das 10 maiores favelas do Brasil, as empresas perceberam que estavam perdendo dinheiro ao ignorar um público com alto potencial de consumo. De acordo com o empreendedor, o desafio de levar o varejo até as favelas é justamente fazer as empresas verem o morador como cliente, que, assim como os de outros bairros, tem direito de receber o pedido diretamente em casa. “As outras iniciativas do segmento estão caminhando, ainda com um volume pequeno de entregas, mas é um mercado gigante, que vai crescer. Se hoje essas empresas, junto com a Favela Brasil Express, atendem 50 favelas, é muito. Existem 14 mil favelas no Brasil que precisam. Então tem espaço para abrir tantas outras startups e empresas de entrega”, conclui Gilson.