Após boom de crescimento, startups desaceleram com contexto macroeconômico
Investidor Minimiza Riscos
Anos consecutivos de
crescimento em aportes levaram as startups a um nível de amadurecimento
significativo no Brasil, com a atuação das empresas de tecnologia em diversos
segmentos. No entanto, fatores como taxa de juros elevada e guerra na Ucrânia
têm desafiado o setor e contribuído para a interrupção desse crescimento, que
deve ser retomado em médio prazo, segundo Eduardo Fuentes, head do research do
hub de inovação Distrito. "O setor passou por um momento de bastante
desenvolvimento, com várias soluções. Hoje, o ecossistema é maduro e tem muitos
investidores, aceleradoras e incubadoras, mas vive um momento macroeconômico um
pouco mais desafiador do que foi no passado", analisa Eduardo, em entrevista
exclusiva ao Jornal Giro News.
Histórico de Crescimento
As diferentes engrenagens
do setor - startups, grandes empresas, investidores, aceleradoras e incubadoras
- se desenvolveram consideravelmente nos últimos anos, tanto em termos de
qualificação, quanto de quantidade. "Não à toa, o volume de investimento saltou
de US$ 747 milhões em 2015, para US$ 3 bilhões em 2019, até alcançar um patamar
de quase US$ 10 bilhões em 2021." Em 2022, houve uma retração de 54,6% no valor
de venture capital, para US$ 4,5 bilhões, e o primeiro trimestre de 2023 seguiu
com queda de 86% nos aportes em startups brasileiras, para US$ 247,02 milhões.
No mesmo trimestre do ano passado, o setor contabilizou US$ 1,7 bilhão em
investimentos. A queda gerou mudanças nas estratégias das startups, como ajuste
de verba para desenvolvimento e custo de aquisição do cliente, investindo menos
em apps, participações em eventos e patrocínios.
Entraves para o
Desenvolvimento
"Com o novo cenário
macroeconômico, guerra entre Ucrânia e Rússia, taxa de juros globais
extremamente elevadas... tudo isso foi tirando o apetite de investidores,
desacelerando processos de grandes empresas, reduzindo budget, e fez com que o
mercado ficasse um pouco mais retraído para inovação e tecnologia agora",
explica o head. Para Eduardo, ainda há outro fator decisivo para as mudanças
deste mercado: a pandemia, que fez as empresas buscarem por serviços de
tecnologia para manterem suas operações. Dado o panorama atual, no qual a
corrida por digitalização já perdeu força, o comportamento dos investidores
mudou. "Agora, eles passam a buscar empresas que tenham métricas operacionais e
capacidade financeira já consolidadas. Então startups que conseguem ser
rentáveis, tenham custo de aquisição de cliente estável e apresentem boas
métricas de retenção devem ganhar atenção dos investidores."
Demissões em Massa
De acordo com o executivo,
as demissões em massa registradas no setor de tecnologia refletem todo esse
ciclo de contração do mercado e foram um movimento utilizado para as empresas
ajustarem suas operações. "Em um cenário que a gente espera em um médio prazo,
de retomada desses investimentos, a tendência é de novas vagas, novas captações
e um reaquecimento de todo o ecossistema", projeta. Após a queda no primeiro
trimestre, o setor de startups começa a demonstrar uma retomada: em abril,
recebeu US$ 87,2 milhões em investimentos, contra US$ 51,4 milhões em março -
porém, na comparação anual, o resultado ainda representa queda de 78,2%. "As
fusões e aquisições têm sido estáveis nos últimos meses e essa prática também
deve continuar acontecendo", finaliza Eduardo.