Os executivos de supermercado visitam e compram em suas lojas online?
E-Commerce Alimentar
*Por Luís Henrique Moreira,diretor-executivode Giro News
Este ano, tomei a decisão de experimentar mais o
e-commerce do varejo alimentar. Substituí a visita às unidades físicas pela
navegação nas lojas virtuais, mesmo para as compras em volume. A ideia era
servir de experimento empírico mesmo, que agregaria conhecimento e embasamento
para pensar em pautas para Giro News. Por coincidência, para tornar este
experimento algo ainda mais desafiador e legal, não moro em um bairro muito
central. Ou seja, aumentam bastante as chances de problemas ficarem mais
evidentes, o que ajuda na identificação dos reais gargalos deste processo.
De maneira geral, é chocante a falta de criatividade em
navegação. Falta fluência, coerência. Nada é intuitivo. Falta organização com
critério para categorias e segmentos. É comum você se sentir comprando um
tênis, ou uma televisão, enquanto sua lista de compras pede um queijo especial,
um vinho ou um biscoito que seja. Isso sem contar a ausência de um CRM que
realmente funcione, que identifique frequência no consumo de determinados itens
para sugerir uma nova compra, para sugerir lançamentos dentro das categorias
que mais se consome, ou qualquer outra iniciativa dentro da imensidão de
oportunidades que um bom CRM permite, não é mesmo?
Porém, com o passar do tempo você se acostuma. Apesar da compra
fria, totalmente focada na lista, é normal nos adaptarmos e normalizarmos algo
que deveria ser absurdo em meio a um ambiente tecnológico tão avançado, com
tanta conversa para lá e para cá sobre omnicanal. É muita teoria, muita NRF,
muito termo em inglês para todo lado, e pouca realidade, pouca ação.
Mas, o pior mesmo não está aí. Vou contar um caso
recente, e em curso, com o Carrefour, que investiu só no Big Brother Brasil
cerca de 29,5 milhões de reais, para promover seu e-commerce de alimentos. Vou
ser rápido. Fiz o pedido em uma quinta, recebi no sábado, faltaram alguns itens
na entrega e, acionando o atendimento por telefone, a atendente só tinha a
opção de estornar o valor dos produtos não entregues. Simplesmente, não existia
a opção de programar uma nova entrega do que faltou. Hoje, dia em que publico
este artigo, já é terça-feira e não tive uma resolução. Porque, nas estruturas
rígidas do e-commerce, com muito robô e pouca gente, é muito complicado
programar a entrega de algumas poucas unidades de biscoito e algumas bisnagas.
Ah, importante. O pedido não está em meu nome e nem tenho
a pretensão de fazer com que este artigo tenha alguma influência na resolução
deste problema. Eu quero é justamente saber como um consumidor comum resolve
isto na prática. Se é que resolve.
O resumo da opera é: eu escuto desde 2015, quando comecei
a escrever bastante sobre supermercado online, que uma das travas para o avanço
do e-commerce era a falta de hábito do consumidor. Hoje, oito anos depois, eu
vejo na prática qual segue sendo esse inibidor. É um canal ruim, pouquíssimo
intuitivo, que falha na operação, falha na urgência, falha na entrega e,
principalmente, falha na relação com o consumidor. A lógica precisa ser
inversa. De nada adianta investir milhões, promover ações e atrair novos
consumidores para dar um tratamento tão pobre na experiência do cliente, que
tanto falam nos últimos anos, mas é visivelmente desprezada no digital. O básico
deveria ser obrigatório. Acredito que, igual se visita loja física, os profissionais
das redes de varejo deveriam também visitar suas lojas virtuais, comprar com
frequência nelas e se atentar na navegação - iriam poder avaliar, por exemplo, se
é normal entrar em uma página e se deparar com refrigerante ao lado de haste
flexível, seguido por um pacote de 5kg de arroz, café e caixa de bombom (este
exemplo é real).