Chegou a hora do varejo colocar o foco no relacionamento com os clientes
*Por Carlos
Wayand, CEO da Mob2Con
Reconhecida pelos ambientes originais e tipicamente familiares que
se remetem a celeiros e casas de fazenda, a rede supermercadista Stew
Leonard's, uma das mais populares dos Estados Unidos, sempre buscou se
apropriar de pretextos para destacar o foco total ao cliente. Para se ter uma
ideia, até o seu próprio nome é utilizado como acróstico para validar esse
conceito: S de satisfy (satisfação ao cliente), T de teamwork
(trabalho em equipe), E de excellence (excelência) e W de wow
(uau, em relação ao encantamento proporcionado os consumidores). No entanto, a
principal das tradições foi iniciada em 1972, quando a empresa passou a
instalar na porta de cada unidade o seu 'mandamento empresarial'. Cravada em
uma imensa rocha, denominada de 'Pedra do compromisso', a filosofia do grupo
estava exposta de forma dividida em apenas duas regras: "1. O cliente tem
sempre razão; 2. Se o cliente estiver errado, releia a regra número um".
Por mais que o case da rede norte-americana seja até, de certa
forma, divertido, a mensagem que ele passa é inegável. O sucesso no setor
varejista sempre está e estará intrinsecamente ligado ao foco destinado ao
consumidor. Até porque, o cliente invariavelmente possui a prerrogativa e a
liberdade de escolha. Portanto, é tarefa do varejo oferecer uma jornada
satisfatória para encantar e conquistar esse comprador.
Apesar de tal diretriz já ser amplamente conhecida pelo mercado há
muito tempo, ainda hoje um dos principais desafios do segmento continua sendo o
relacionamento com o consumidor. Isso porque hoje vivenciamos um cenário de
constante evolução tecnológica, com frequentes mudanças nos hábitos e
tendências de consumo e uma concorrência quase predatória.
Ou seja, com consumidores cada vez mais bem informados, aspectos
como personalização e experiência se tornam elementos fundamentais de
diferenciação no mercado. Imagine, por exemplo, visitar um restaurante onde,
apesar de a comida não ser excepcional, a pessoa seja recebida com um
atendimento exemplar. Em contraste, considere outro estabelecimento com pratos
deliciosos, mas cujo atendimento deixa muito a desejar. É bem provável que no
caso de uma segunda chance, ela seja dada ao primeiro local, demonstrando que
um serviço acolhedor pode ser tão importante quanto a qualidade do produto em
si. Essa tendência sublinha a importância de priorizar não apenas o que é
oferecido, mas também como é oferecido.
De fato, os números corroboram essa análise. De acordo com uma
pesquisa conduzida pela Salesforce, 84% dos consumidores consideram a
experiência oferecida tão relevante quanto os produtos ou serviços adquiridos.
O grande objetivo do varejo hoje, deste modo, não é apenas comercializar
produtos de qualidade, mas também garantir que a jornada de compra seja
conveniente, personalizada e alinhada aos valores dos clientes.
Portanto, as empresas precisam contar com uma capacidade constante
de reinvenção para atender às expectativas dos clientes. Crucialmente, é vital
reconhecer que cada cliente é um indivíduo com necessidades únicas. Ainda que
pareça evidente, um estudo da Deloitte revelou que apenas 29% dos consumidores
sentem que as empresas compreendem suas preferências de maneira
individualizada, destacando uma demanda clara por uma abordagem mais
personalizada.
O sucesso, logo, radica em construir um relacionamento forte e
baseado na confiança com o consumidor, respeitando suas necessidades e desejos.
O varejo necessita evoluir de uma postura focada exclusivamente em vendas para
uma compreensão mais profunda sobre as expectativas dos clientes. Isso quer
dizer que o problema que um comprador enfrenta não necessariamente será o mesmo
que o outro.
Dessa forma, ações como o desenvolvimento de uma cultura de
feedbacks, com foco principalmente no engajamento estratégico com os
consumidores, e a presença em variados canais são algumas das práticas que
ajudam a construir um relacionamento mais estável com o cliente. Vale sempre
destacar ainda que estamos na 'era dos dados', em que as ferramentas para
identificar e avaliar as preferências do público nunca foram tão poderosas e
necessárias para o mercado. Sem dúvida, condutas como essas ajudam a colocá-los
no centro das estratégias do negócio, buscando garantir a sua satisfação e,
consequentemente, a fidelização. Afinal, conforme a primeira regra da Stew
Leonard's nos lembra, o cliente sempre tem razão.