Conveniência e Proximidade como Parte da Nova Realidade do Consumo
*Por Marcos Gouvêa
Com a atenção do consumidor cada vez mais disputada por marcas, lojas
e canais diversos, a conveniência se tornou um atributo diferencial para
tornar a jornada de compra mais prática. Trata-se de um movimento que já era
perceptível na realidade brasileira e no exterior, mas que foi acelerado nos
últimos meses com o surgimento da pandemia do Covid-19.
O consumidor que emerge desta crise, pressionado pela contingência do
isolamento social e das restrições de deslocamento, aprendeu a valorizar tudo
o que está próximo ou no caminho de suas atividades diárias, de forma que a
sua experiência de consumo proporcione segurança e rapidez.
Em um momento no qual as pessoas tentam evitar aglomerações públicas e
grandes centros de compras, o comércio local passou a ganhar mais
visibilidade nas escolhas do consumidor. A dobradinha entre conveniência e
proximidade exerceu nos últimos meses um poder transformador no mercado,
contribuindo para reconfigurar a geografia de consumo.
Alguns formatos de venda saíram fortalecidos desta pandemia. As lojas
de proximidade e de conveniência, os conceitos autônomos e passíveis de serem
operados sem funcionários fixos e a expansão das vendas diretas incorporadas
por redes tradicionais de varejo foram tendências valorizadas no atual
contexto e que devem seguir ganhando força.
O mesmo movimento é visto nas combinações envolvendo categorias
complementares. É o caso de operações físicas integradas às digitais, dos
pontos de entrega de compras online combinados com lojas convencionais e de
serviços básicos integrados a condomínios, como o de lavanderias, por
exemplo.
Os tradicionais modais de transporte das cidades, um dos poucos locais
de intenso fluxo de pessoas que não foram totalmente paralisados nesta
pandemia, emergem como um local que favorece o fator proximidade nas relações
de consumo. Mais do que um local de passagem ou de espera na fila do ônibus,
os terminais urbanos de transporte despontam com um enorme potencial para
abrigar centros comerciais planejados, que levam conveniência e praticidade
aos quem usam transporte público.
São todos movimentos que a pandemia acelerou o processo de
transformação, já que se manifestavam de forma incipiente e a mudança da
realidade desvendou oportunidades e necessidades que se tornaram prementes,
obrigando desenvolvedores imobiliários, varejistas, concessionárias de
transporte público, operadores de serviços e os próprios fornecedores de
produtos a buscarem alternativas para se reposicionarem de forma rápida e
efetiva, em meio aos dramas da pandemia.
Vivemos nos últimos meses o mais estrutural, intenso, concentrado e
rápido processo de transformação do setor de varejo na história do setor.
Pode-se afirmar que nunca antes o setor se viu obrigado a inovar e se
transformar tanto num período tão curto. E muito do que foi criado ou
adaptado e implantado, se incorpora à nova realidade reconfigurada, separando
empresas que souberam se adaptar, das que ficaram para trás.
As relações de consumo se alteraram drasticamente com a pandemia e o
prolongamento de medidas restritivas é um indicativo de que alguns hábitos de
consumo que emergiram nesta crise deverão se prolongar por mais algum tempo.
É o momento de empresas e marcas enxergarem este momento como uma
oportunidade para se adaptarem e acompanharem as necessidades dos
consumidores. A crise - embora duradoura - é passageira, mas as
transformações causadas por ela são estruturais e deverão pautar cada vez
mais a demanda dos consumidores por conveniência e proximidade.
*Marcos Gouvêa de Souza é diretor-geral da Gouvêa Ecosystem.