Seja Omnichannel Para Vender Mais. Site Não é Cartão de Visita e Prateleira Não é Banner. Entenda.
*Por Hugo Alvarenga
Durante
muito tempo se defendeu que uma empresa precisa marcar presença em
diferentes canais de venda. Esse tipo de mantra causou uma corrida
desordenada das organizações por novas possibilidades e vitrines. O
estrondoso crescimento do e-commerce nos últimos meses, porém, mostrou
que presença é insuficiente. O que adianta estar presente sem se
comunicar direito, construir relacionamento ou vender o quanto precisa?
Por isso, 2021 consolida uma nova era no varejo. A era da diversidade
dos canais levada a sério, em que mais do que marcar presença será
necessário marcar novas atitudes em cada canal.
No
início da pandemia, nos EUA, quase 40% dos compradores não conseguiram
encontrar os produtos que precisavam e tiveram que comprar itens de
outras marcas, que normalmente não comprariam, de acordo com o Instituto
Ipsos. Suas marcas preferidas até poderiam estar online, mas
provavelmente não se mostraram preparadas para realizar uma entrega
efetiva como faziam tradicionalmente. Primeira lição que fica: site não é
cartão de visita, rede social não é relatório, prateleira não é banner.
Esses meios são ferramentas poderosas para captar a atenção do
consumidor e vender. Seus canais estão vendendo? Que experiência você
oferece ali?
Quando
alguém vem me contar muito empolgado sobre os números do e-commerce,
lembro que os nossos tempos falam, por incrível que pareça, menos do
comércio eletrônico e mais de uma necessidade de as marcas olharem para
as novas jornadas multicanais de compra. A venda online é peça-chave,
mas não exclui outras formas de venda. Restaurantes que disponibilizam
produtos em supermercados, fabricantes que "pulam" o varejo e oferecem
seus produtos diretamente ao consumidor, lojas que reforçam o e-commerce
e transformam seus espaços físicos em ambientes de experiência com
produto. São
muitos exemplos e, ao investir nos seus canais de venda, há empresas
que descobrem a segunda etapa da evolução: ser plural nos canais exige
ser multi em um monte de áreas. Marcar atitude além de presença em cada
meio impacta na forma como você cria relacionamento, produtos,
conversas, posicionamento...
Recentemente,
uma famosa grife de roupas lançou um curso online sobre branding, com
lista de espera para a primeira turma. Quem imaginaria que um dia o
setor de moda e vestuário abraçaria a área de educação, de um jeito
muito natural, sem que uma marca perdesse a sua identidade? O professor
do curso, aliás, é um dos próprios sócios-fundadores da grife, ajudando a
construir uma experiência de relacionamento do cliente omnichannel
muito próxima das pessoas.
O
conceito omnichannel se ramifica. Dá licença para as empresas testarem
canais, mas também novos produtos. Nada é estático, muito menos o
portfólio de uma empresa. De uns tempos para cá, uma estratégia comum é
lançar com alguma regularidade produtos em edição limitada, para gerar
buzz e conhecer na prática o gosto do consumidor. Uma rede de fastfood
brasileira vem se destacando nessa área. Alguns dos lançamentos de maior
sucesso entram no cardápio fixo das lojas e os que não têm desempenho
satisfatório são descartados. Enquanto isso, o cliente experimenta
sabores diferentes e sempre volta para conferir as novidades.
Quando o próprio entregador vira canal de relacionamento
O
varejo online, por sua vez, é mestre em ser omnichannel sem abandonar o
mundo virtual. Há empresas que além de manter o e-commerce no site
ingressam em marketplaces no Whatsapp, onde vendem desde materiais de
construção e produtos para pet a passagens aéreas.
Existem
supermercados brasileiros inclusive sem única loja física, com o
comércio totalmente online, conseguindo maior controle de estoque e
logística. Um deles firmou parceria sustentável com a Coca-Cola para
substituição de garrafas de vidro, graças a seus diferenciais de
logística reversa e equipe própria de entrega, que supermercados
tradicionais não possuem. Um caso em que o delivery por si vira canal de
relacionamento sustentável.
O
e-commerce tem uma grande participação na economia multicanal. Para
termos uma noção de impacto, enquanto a Ford demitiu pouco mais de 6 mil
colaboradores com o encerramento da produção de carros no Brasil, os
aplicativos de entrega são a primeira fonte de renda para cerca de 4
milhões de pessoas no país, segundo o IBGE.
Outros
números reforçam a dimensão.Há alguns anos um estudo de Harvard com
quase 50 mil consumidores nos EUA revelou que as pessoas que compravam
produtos em diferentes canais gastavam 10% a mais online do que as que
realizavam compras em um único canal. O estudo Riverbed Retail Digital
Trends, com 3 mil pessoas nos EUA, Austrália e Alemanha, apontou que 89%
dos consumidores consideram que ter uma experiência de compra digital
positiva é tão importante para voltar à loja quanto o preço.
Ser
omnichannel, construindo eficiência no e-commerce e em outros canais de
venda, virou pré-requisito para a sobrevivência das empresas. No início
da pandemia, em muitas organizações a multicanalidade foi conduzida na
base do grito e do desespero. Em 2021, temos a obrigação de pensar a
multicanalidade de forma estratégica.
*Hugo
Alvarenga é sócio-fundador da b8one, laboratório de soluções digitais
especializado em e-commerce.
23/04/2021