Varejo e CRM: Uma Verdadeira Vantagem Competitiva
*Por
Fernando Gibotti
No Brasil, em meados de março de 2020, quando foi decretada a
pandemia e o início do isolamento social, circularam muitas informações -
verdadeiras e falsas - sobre desabastecimento de lojas e falta de produtos
essenciais, o que levou a população em massa aos supermercados e gerou um
grande aumento de vendas.
Esse crescimento nas vendas trouxe, inicialmente, um lado
positivo: o aumento do faturamento. Uma análise da GS Ciência do Consumo,
considerando 25 milhões de compras feitas em hipermercados, supermercados e
cash&carry em todo o Brasil, mostra que o faturamento destes canais de
vendas em março do ano passado cresceu 30,6%, em relação ao mesmo mês de
2019.
Apesar do aumento inicial de faturamento, o setor passou por
grandes desafios. O primeiro deles foi o de manter toda a cadeia de
abastecimento funcionando. Com a ida em massa aos pontos de vendas, os
varejistas precisaram se organizar, ter estoque para suprir as necessidades dos
clientes. Para se ter uma ideia, em abril, segundo dados da GS, o ticket médio
das compras feitas em hipermercados, supermercados e cash&carry aumentou
12,9%, além do número de itens colocados nos carrinhos, que subiu 10%.
Ainda em abril, os varejistas também se depararam com outra
situação: o público 60+, que corresponde, em média, a 19% das compras físicas
nos três canais de vendas, deixou de ir às lojas, em função do medo da
contaminação. Ou seja, o varejo, mais uma vez, precisou se adaptar.
Primeiro, foi preciso criar alternativas para que esse público
pudesse comprar. Uma das respostas mais óbvias foi a utilização da tecnologia,
com recursos como WhatsApp, sistema click e retire etc. As lojas também foram
obrigadas a desenvolver protocolos de segurança, tanto para clientes como para
funcionários, dos mais simples aos mais complexos, como a demarcação do espaço
físico para que houvesse o respeito ao distanciamento e a adoção de meios de
pagamentos 'contactless'.
E, mais uma vez, o varejista conseguiu demonstrar resiliência no
processo, pois, de forma geral, a adaptação foi extremamente rápida, dando
segurança aos compradores.
Nesse momento, um ponto que trouxe grande vantagem competitiva aos
varejistas foi o CRM. Aqueles que já possuíam dados e informações e mantinham
relacionamento de alguma forma com os seus clientes conseguiram criar um
vínculo ainda mais forte com eles. Isso foi feito, por exemplo, mandando
mensagens úteis, via SMS, WhatsApp e aplicativos, que tranquilizaram o cliente
em relação ao abastecimento, à segurança, sobre formas adicionais de compras,
tudo de forma muito simples e ágil.
Ou seja, o varejista uniu sua plataforma de dados com o poder de
comunicação para mostrar aos consumidores os cuidados que estavam sendo
tomados, as alternativas criadas para que as compras pudessem ser feitas com
segurança, sempre pensando em oferecer uma boa experiência.
Além disso, os varejistas que possuíam um CRM e utilizavam os
dados de forma estratégica conseguiram direcionar o abastecimento de produtos voltados
aos novos hábitos do consumidor, como cozinhar mais em casa, e puderam criar
promoções para aqueles produtos com prazos de vencimento mais curtos.
Assim, a tecnologia foi utilizada de forma inteligente para
alavancar vendas de itens específicos e todo o trabalho serviu para fidelizar
ainda mais os clientes. E cliente fidelizado e engajado compra mais. Prova disso é que, em 2020,
a diferença entre o ticket médio do cliente fidelizado em relação ao não
fidelizado foi de 105,36%, segundo o Índice de Fidelização e Engajamento do
Varejo (IFEV), medido pela GS.
Os varejistas, durante todo o período da pandemia, mostraram que,
mesmo com todos os desafios, é possível ter respostas a altura, pois
conseguiram se adaptar, atender as necessidades e anseios dos clientes e
crescer em um período de tanto medo e incertezas sem precedentes neste século -
o último foi no século passado, com a gripe espanhola.
E muitos aprendizados ficam desse período que ainda estamos
vivendo. Um deles é que a velocidade de adaptação é fundamental para que o
negócio sobreviva tanto às crises como às tendências que surgem constantemente.
Além disso, a tecnologia, muitas vezes colocada em um plano operacional, pode e
deve ser utilizada de forma estratégica, auxiliando na tomada de decisão.
Outro ponto importante é que a Ciência do Consumo demonstrou
claramente que conhecer clientes e hábitos é fundamental para a velocidade de
adaptação e para se manter na rota de crescimento.
Por fim, os programas de relacionamento, suportados por CRM,
demonstraram sua eficiência e os resultados concretos obtidos a partir desse
engajamento com o cliente. E o uso de tecnologias como ferramentas estratégicas,
com apoio de conteúdo hiperpersonalizado e relevante, dará, certamente,
vantagem competitiva ao varejista.
*Fernando
Gibotti é CEO da GS Ciência do Consumo.