Shopping centers e a sustentabilidade ambiental: para além do marketing
*Por Glauco Humai, presidente da Abrasce - Associação Brasileira de Shoppings Centers
É senso comum dos
nossos dias, fartamente abordado na sociedade, que a Agenda ESG é prioridade
para setores econômicos, para governos e para comunidades como um todo. Mas
para além de certa obviedade contida neste cenário, é fundamental pontuar, a
partir de exemplos de um setor muito relevante da economia brasileira, porque a
responsabilidade ambiental, social e de governança é algo que faz sentido à
parte o componente de marketing que atualmente se observa na persecução do
tripé de responsabilidade: adotar a agenda ESG traz resultados.
Trata-se do setor
brasileiro de Shopping Centers. É um conjunto de grandes plataformas de viver,
referenciadas no cotidiano como locais de compras, mas também de lazer,
gastronomia e entretenimento. Além de cumprirem infinidade de papéis para o
brasileiro de diferentes extratos sociais, os shoppings também se inscrevem
como referenciais urbanos e contribuem decisivamente para movimentar a grande
roda da economia brasileira. Em 2022, o faturamento desses empreendimentos
totalizou R$ 191,8 bilhões, com
crescimento de 20,5% em relação ao ano anterior, de acordo com o Censo
Brasileiro 2022-2023, elaborado pela Associação Brasileira de Shopping Centers
(Abrasce).
Os 628 shoppings
no nosso país recebem a cada mês 443 milhões de visitas. E passada a pandemia
da Covid-19, que impactou ostensivamente o Brasil e o Mundo, cumprem hoje com
força total o seu papel junto à sociedade.
E neste grande
universo de empreendimentos, presentes em todas as regiões do país, adotar as
boas práticas ESG implica redução do consumo de recursos naturais, mas também
na melhoria da eficiência operacional, promoção da diversidade e inclusão, além
da busca pela equidade e preocupação com as comunidades locais. São ações de
longo prazo que vem transformando de forma contínua o setor em um agente ativo
na construção de um futuro mais sustentável e consciente.
A Abrasce
finalizou um ambicioso estudo sobre sustentabilidade, em parceria com a ASAS -
Agência de Soluções Ambientais e Sociais. A partir de coleta de dados da gestão
dos shopping centers no período de março a junho deste ano, temos um
diagnóstico que mostra investimento pesado na consolidação de iniciativas ESG,
nas diferentes frentes dos três pilares de sustentabilidade.
Atualmente, 92%
dos shoppings adquirem energia elétrica no mercado livre, iniciativa que
impacta positivamente os custos e permite ao empreendimento alinhar suas
operações com metas de sustentabilidade, contribuindo para um cenário mais
eficiente e ecologicamente consciente. Além disso, nada menos do que 87% dos
shoppings empregam hoje energia proveniente de fontes renováveis, como solar,
eólica, hidroelétrica, geotérmica e biomassa.
O estímulo à
mobilidade elétrica é uma realidade crescente: a oferta de vagas com
carregadores elétricos aumentou 4,3 vezes entre 2019 e 2022, chegando a 52% dos
shoppings. E 93% dos shoppings disponibilizam bicicletários, promovendo
alternativas de transporte ambientalmente amigáveis. Ao estimularem o
transporte com menor impacto ambiental, os shoppings cumprem também seu papel
junto a uma sociedade que debate cada vez mais sobre o emprego futuro de
combustíveis e finitude dos recursos naturais.
Há também um
debate crescente sobre a gestão hídrica e o emprego de reuso de chuvas e "águas
cinzas", inclusive objeto de lei sancionada este ano (Lei 14.546/23).
Atualmente 25% dos shoppings reusam água das chuvas, para diversas finalidades,
incluindo irrigação de jardins (64%), lavagem de pisos (56%), higienização de
banheiros (23%) entre outros.
O levantamento
mostra 91% dos shopping centers brasileiros empregando iluminação de led, que
opera com maior eficiência energética e chega a consumir 85% menos energia do
que as lâmpadas fluorescentes. Além disso, a coleta seletiva em praças de
alimentação chega hoje a 82% dos shoppings. E, em entradas e acessos, 70%
oferecem locais com coleta seletiva para os frequentadores.
Cada um desses
itens poderia ser desdobrado em ampla análise e há diversas outras iniciativas
de impacto ambiental, e também social e de governança: 89% dos shoppings
organizam campanhas de arrecadação de donativos, e 93% dispõem de códigos de
conduta para atuação de seus colaboradores.
Buscando
contribuir, em nosso papel de associação que reúne empreendimentos altamente
relevantes e de tanto sentido para cidades e comunidades, é possível concluir
que não há espaço para acomodação, e que os shopping centers irão persistir na
busca pelos grandes objetivos, contribuintes com um Brasil e um mundo melhor.