Os desafios do varejo e a inteligência artificial como apoio para a tomada de decisões
*Por
Ricardo Ramos, CEO da Precifica
Os
varejistas que operam no mundo físico e no mundo on-line têm enormes
dificuldades para superar desafios que todos os dias batem à porta. Na
realidade, o que acontece é que sempre foram pressionados por duas grandes
forças, que agem mais intensamente nos tempos atuais: a conjuntural e a
estrutural.
A
força conjuntural é direcionada à macroeconomia, ao mercado e menos ao negócio
em si. Mesmo assim, tem jogado contra o varejo. Falo aqui da taxa de juros em
patamar muito elevado. O varejo depende de capital de giro e de financiamento,
então o juro é uma força na contramão do crescimento do setor e do poder de
compra dos consumidores, que é reduzido quando a inflação cresce. É difícil
operar em um cenário como esse.
Dados
divulgados pelo IBGE, em abril, mostram que o comércio brasileiro registrou
queda de 0,1% em fevereiro depois de uma alta expressiva em janeiro, de 3,8%.
Segundo especialistas, isso demonstra a tendência de um varejo morno durante o
ano em termos de faturamento. Algo natural em uma economia cuja taxa básica de
juros está em 13,75% e a inflação, embora mostre arrefecimento, continua alta.
O IPCA-15 de abril foi de 0,57%.
Portanto,
temos visto muitas empresas reportando que a prioridade agora é o caixa e a
rentabilidade e não o crescimento. Há dois anos, o pensamento era inverso.
Havia o movimento de crescimento a qualquer preço porque o custo do dinheiro
era baixo.
Já a
segunda grande força é, de fato, mais estrutural. Trata-se das características
do setor. Seja físico, seja digital, o varejo trabalha com grande quantidade de
produtos na prateleira que passam por renovações constantes.
Além
disso, o setor tem um número crescente de lojas concorrentes, de canais que
estão competindo de diferentes maneiras. Para exemplificar, essa quantidade
cresce dentro e fora dos marketplaces,
dos superapps como Rappi e iFood, das lojas virtuais próprias e do varejo
presencial. Isso gera pressão para o negócio do varejista, que antes olhava
somente para o vizinho ao lado e para uma concorrência direta mais
óbvia.
A
situação relatada é o desenho do que vivemos hoje e do modus operandi que vai
seguir por um bom tempo. Trata-se de um cenário muito mais técnico que
dificulta a definição de preços, ofertas e do momento certo para realizar
qualquer tipo de mudança. Tudo é complexo porque o varejista tem que entender o
que está impulsionando a demanda ou, no sentido contrário, o que está fazendo
determinada ação desaparecer.
Ainda
é preciso tomar cuidado para não criar promoções que joguem contra o próprio
fluxo de caixa, que é quando o juro está alto, o fluxo de caixa é difícil e as
pessoas buscam economizar. Então, não se deve simplesmente operar com grandes
promoções sem olhar para dentro de casa, para a margem de lucro.
Existem
alguns passos a serem seguidos para usar adequadamente as informações e definir
com mais precisão preços, promoções e tudo aquilo que possa favorecer o
desempenho do negócio. O primeiro ponto é identificar quais fatores estão
afetando o processo, o que está fazendo o consumidor ir ou fugir da loja.
Baseado nos dados, a IA detecta padrões cruzados entre um número grande de
variáveis, como época do ano, período do mês, horário do dia, clima, câmbio,
preço, preço da concorrência e frete. Há produtos que são afetados mais pela
sazonalidade, outros mais pelo clima etc. Portanto, o estudo de fatores é o
primeiro passo.
O
segundo é definir os pesos desses fatores. Por exemplo: descobri que o clima
impulsiona a demanda. Como usar essa informação em um modelo matemático para definir
se eu posso cobrar 5%, 10% ou 15% a mais? Pode ser que aumentando 10%, a
demanda ainda cresça 15% e, se subir o preço em 15%, a demanda nem caia tanto.
Então, devido à relação entre o preço e o crescimento, haverá sentido ter mais
valor e menos procura para aumentar o faturamento e a rentabilidade. A decisão
depende da estratégia do negócio.
Depois
é preciso entender a tendência da demanda. Existem produtos que são vendidos
mais nos fins de semana. Outros, no meio da semana. Então, qual é a tendência
para os próximos dias? Se for crescente, talvez seja possível cobrar mais. Se
for decrescente, talvez seja necessário fazer promoção. Ainda é prudente
observar a tendência de oferta, que é aquilo que o varejista tem no estoque,
porque se a perspectiva é vender mais um determinado item, mas a
disponibilidade for pequena, o risco de o produto faltar é alto. Nesse caso,
não adianta trabalhar para a demanda aumentar.
O
passo seguinte é definir preços. Isso deve ser feito de acordo com o objetivo
traçado, que pode ser gerar caixa, vender mais ou aumentar a margem. Como se
vê, hoje o cenário é muito mais técnico porque o varejista tem muitos
competidores ao redor e um universo vasto de produtos para tomar conta.
Descobrir todos esses pontos para otimizar os valores continuamente é uma
tarefa complexa.
Fazer
isso tudo manualmente é realmente impossível porque se trata de um exercício
contínuo. Não significa que os preços serão alterados diariamente, mas quer
dizer que todos os dias será feita uma análise para entender se esse valor
precisa mudar ou não. Por isso, o ideal é contar com o apoio de soluções
baseadas em IA. Teoricamente, é possível fazer as tarefas manualmente, porém,
como o varejo em geral trabalha com um volume muito grande de produtos, é melhor
contar com a tecnologia para evitar a perda de controle de todo o processo, que
começa na compra, passa pelo estoque e culmina nas vendas.
A
inteligência artificial por si só não vende, mas simplifica o fluxo de
informações de tal maneira que fica mais fácil tomar decisões assertivas,
capazes de aumentar a demanda, o faturamento e a margem de lucro do
negócio.