Covid: Que Fazer Agora?
*Por Percival Maricato
A pandemia atingiu seu auge e governadores e prefeitos decretaram diversas medidas de restrições a atividades econômicas e sociais.
O
governo federal, que poderia ter evitado o agravamento dessa tragédia
importando vacinas em tempo oportuno, e consequentemente salvado
empresas e empregos, continua ausente, ou errático, mudando ministros e
opiniões conforme o astral do presidente.
Não
obstante, a contaminação continua crescendo e isso se deve ao que
fizemos semanas atrás. Portanto, fazer malabarismos, perder o
equilíbrio, tentar conter o vírus com ações genéricas ou procurar
bruxas, só pode piorar a situação caótica que atingimos.
Pesquisa
publicada recentemente mostra que, em São Paulo, nos bairros de
periferia, há pelo menos três vezes mais mortos por Covid que nos
bairros de classe média. Uma outra constata que o número de negros
afetados pelo vírus é muito superior ao de brancos. Os brasileiros de
menor renda estão desamparados.
Entre
as causas principais estão o menor espaço de convivência das famílias
na periferia e a necessidade de usar transportes públicos para ir ao
trabalho.
Outra
causa evidente do crescimento da pandemia se dá com o fato de os jovens
não se conformarem em viver confinados e frequentarem aglomerações,
festas clandestinas, encontro com amigos. Infectados, transmitem a
doença a familiares.
Há,
ainda, o negacionismo presidencial, as falas contra a vacina,
isolamento e uso de máscaras, que influencia boa parte da população.
Conforme recente pesquisa do Datafolha, 22% dos brasileiros, ainda,
acham que a conduta do presidente no combate à pandemia pode ser
classificada como boa ou ótima. São milhões, que certamente desprezam os
cuidados recomendados.
A
periferia e os jovens devem receber atenção dos governos. Quanto à
primeira, há que se melhorar a comunicação, tentar obter ajuda de
organizações civis, sindicais, de bairro, políticos populares, escolas
de samba, para convencer maior número de pessoas, informá-las, exigir
ainda mais esforços na prevenção. Quanto aos jovens, deveria se tentar
mobilizar organizações estudantis, religiosas, clubes de futebol,
agentes, enfim, que possam influenciar junto aos mesmos.
Paralisar
esta ou aquela atividade econômica ainda funcionando, com obediência a
protocolos, pode até ter algum efeito, mas insignificante e
contraproducentes, tendo em vista a necessidade de produzir, manter
serviços, empregos, um mínimo necessário.
O
governo de São Paulo já errou demais ao apontar culpados
equivocadamente; os restaurantes por exemplo. Não pode mais se dar ao
luxo de perder energia e credibilidade que restaram. Mas continua
errando grosseiramente, ao proibir a entrega direta de alimentos prontos
na porta do restaurante, estimulando assim a entrega por aplicativos,
favorecendo os lucros milionários destes, onerando restaurantes e a
população fragilizada, que pagam mais 25% em cada pedido, aumentando o
risco, vez que insere um intermediário desnecessário em milhares desses
procedimentos, diariamente. Chega a ser estranho essa opção pelo mais
caro e mais perigoso.
Os
focos centrais da pandemia no passado foram as eleições, depois festas,
praias, viagens e comércio de fim de ano, e sempre transporte público e
festas em família. Outro foco são as festas clandestinas, que se
multiplicaram após o fechamento dos bares.
Em
meio a pandemia, a tão necessária agilidade não precisa ser burra, a
tomada de decisões exige maturidade e bom senso. Além da óbvia pressão
por compra de vacinas, os esforços devem ser dirigidos aos focos de
contaminação, sem ficar atirando a esmo e queimando bruxas.
*Percival Maricato ésócio do Maricato Advogados.
26/03/2021