Como a indústria pode se aproximar dos mercados de bairro
*Por Lucas Sanches, CEO da Yandeh
Quando
o assunto é supermercados, muitas pessoas ainda só fazem as compras do mês em
grandes redes, seja nas unidades físicas e ou no e-commerce. No entanto, uma
boa parcela da população também recorre aos mercados locais nessas horas, o que
é um movimento essencial para o varejo por um motivo simples: esses comércios
correspondem a uma fatia extremamente significativa para as indústrias.
Segundo
o ranking IBEVAR 2022, houve uma ligeira desconcentração do varejo, onde as 6
maiores cadeias supermercadistas diminuíram sua representatividade do
faturamento total do segmento em 0,6pp, enquanto os mercados independentes
aumentaram sua importância em proporção similar. Ou seja, estamos falando de
dois lados da mesma moeda, que precisam ter uma comunicação e uma relação
estável para funcionarem bem.
Antes
de qualquer solução, devemos olhar para a distribuição dos mercados de bairro
no Brasil. Enquanto os supermercados se concentram proporcionalmente à
população, sendo a região Sudeste e Sul as maiores em números absolutos, esses
estabelecimentos estão praticamente em todos os estados e municípios do país.
Isso cria um enorme desafio para os fornecedores chegarem até eles com
excelência, uma vez que há a necessidade de organizar uma série de fatores,
como preços, exposição e a própria categoria dos produtos.
Basicamente,
há duas formas da indústria cumprir essa missão: por contra própria ou por meio
de um terceiro. Na primeira situação, ela transporta os itens que possuem giro
ou tempo de vida muito rápidos, justificando a distribuição direta. É claro que
o combo "volume de faturamento/margem" precisa pagar as despesas, portanto se
trata de um cenário muito específico e que não é aplicável, financeiramente e
logisticamente falando, de uma forma generalizada.
Já
no caso de terceiros, o mercado trabalha com atacado (com entrega ou loja física),
envolvendo um portfólio de alto giro e volume e deixando a cargo dos
distribuidores lidarem com o portfolio completo das indústrias. Por essa razão,
bons distribuidores são considerados "assets", mas também são dispendiosos
porque os fornecedores precisam realizar um alto investimento para pagar uma
lista de custos, como uma equipe de vendas grande, o treinamento, capacitação,
materiais e subsídios, verbas promocionais, tabelas vantajosas e assim por
diante.
É
aqui que o modelo phygital (físico e digital) pode mudar e otimizar todo o
processo. Com a tecnologia e o trabalho de inteligência de dados, a relação de
compra e venda não só se torna mais assertiva com as informações relevantes
sobre as operações, como também captura o benefício financeiro de não
necessitar da relação humana presencial para transacionar pedidos. Em outras
palavras, é possível construir uma dinâmica personalizada, na qual o comprador
sabe escolher um portfólio e a chegada dos itens até ele é realizada com menos
imprevistos.
Com
esse formato de Data Intelligence, há, por exemplo, como ter o conhecimento de
quais produtos estão perto de uma ruptura de estoque, quais não estão ainda
cadastrados naquela loja e também apontar aqueles que não são vendidos por um
determinado canal. Além disso, o próprio papel do distribuidor deixa de ser o
de apenas retirar o pedido para o de um verdadeiro consultor de negócios,
conseguindo ajudar o varejo com desenvolvimento de categorias, precificação e
muitas outras tarefas.
Porém,
mesmo diante dessas vantagens, ainda não existe uma compreensão profunda dos
benefícios que os investimentos na digitalização de processos podem trazer,
tanto por parte dos mercados locais como da indústria. No primeiro caso, essa
decisão é baseada muito no custo de acesso - ou na percepção de alto custo de
acesso. No segundo, está mais relacionado com a infraestrutura da empresa; para
aquelas de grande porte ou multinacionais, o ecossistema digital sólido, que
traz uma maior segurança de informação, causa menos entraves aos empresários do
que nas PMEs.
Apesar
disso, toda essa cadeia também possui uma qualidade em comum, especialmente se
tratando do Brasil: as pessoas são cada vez mais heavy users de plataformas
digitais, mídias sociais, aplicativos de mensagem e, principalmente,
smartphones, portanto estão mais próximas do grande ecossistema de dados. Com
isso, o potencial para a rede industrial e mercadista de bairros entender que a
tecnologia e essa rede de informações pode facilitar a vida de ambas as partes
é significativa. E, enxergando que as novas ferramentas são aliadas nos
negócios, não o fim deles, os benefícios tendem a vir em um efeito dominó para
todos os segmentos, terminando com uma melhor experiência do consumidor final.