A transformação digital no varejo é para todos
*Por Wagner Mueller, head de Varejo da Zucchetti Brasil
Estamos vivendo um cenário pós pandemia, e essa condição forçou
muitas empresas a reforçarem sua presença digital. O que era, antes,
diferencial competitivo, se tornou sobrevivência, uma vez que o digital se
constituiu como alternativa singular para relacionamento com seus clientes. Em
muitos casos, especialmente no pequeno varejo, esse posicionamento sequer
existia. Essa corrida pela subsistência trouxe muitos desafios operacionais,
mas especialmente culturais.
Se por um lado temos a tecnologia dando o apoio e suporte
necessário para superar as adversidades apresentadas, temos do outro lado o
empresário que, em muitos casos, ignorava esses recursos. Essa resistência
parece ter ficado para trás, uma vez que a pandemia acelerou e muito a presença
de ferramentas digitais nas empresas.
Num retorno à suposta normalidade do mercado, entendo que o
grande desafio do empreendedor está condicionado a esse cenário: o uso da
tecnologia (agora evidenciada como imprescindível) para uma gestão mais
eficiente do seu negócio, agregando valor e gerando maior engajamento com seu
cliente.
Com tudo isso, a digitalização, sem dúvidas, é o desafio do
momento para o micro e pequeno varejo. O que tenho percebido é que, com o
avanço dos recursos tecnológicos, esse desafio está muito mais fundamentado em
uma resistência cultural do que na oferta de ferramentas.
A indústria de software possui hoje um extenso repertório de
soluções customizadas. Para o pequeno varejo, em especial, é possível encontrar
muita coisa boa (e eficiente), práticas e baratas, algumas, inclusive,
gratuitas. Ferramentas que fazem e entregam coisas simples, mas que fazem a
diferença na vida do empresário. Ajudam a tomada de decisões de forma mais
rápida e assertiva.
Segundo o Sebrae, quase 70% das micro e pequenas empresas
não conseguem completar seu 5° ano no Brasil. Ao longo de 30 anos em que
acompanho esse mercado, observo que, geralmente, o motivo de insucesso não são
fatores complexos, ao contrário, o básico é o grande vilão. Regras e práticas
simples de gestão são indispensáveis para qualquer negócio, menos é mais, o
chamado "feijão com arroz".
O que ocorre é que, muitas vezes, o modelo mental do pequeno
empreendedor precisa acompanhar os avanços tecnológicos, caso contrário terá
sérias dificuldades para se manter competitivo no mercado e continuará sendo
estatística negativa. O porte da empresa não define a viabilidade das suas
ferramentas, muito menos o potencial do seu negócio, mas as atitudes dos
gestores sim.
O pequeno varejo sempre terá um grande diferencial em relação
aos grandes players: o relacionamento. A proximidade com o cliente é muito
maior, é sua grande fortaleza e ela precisa ser fomentada. Aí entra a
tecnologia, mas é importante que o pequeno empresário entenda isso: a
tecnologia precisa ser usada como ferramenta, não como condicionante de
mercado. Focar no que você é bom e usar a tecnologia como aliada, não o
contrário. Sempre vai existir alguma solução que se encaixa.
Podemos citar alguns exemplos, como QR code, carteiras digitais,
PIX, provadores digitais, chatbots, e-commerce, redes sociais como exemplos de
ferramentas que podem ser usadas. Então, o desafio aqui é entender qual a
melhor forma do empresário utilizar todo esse arsenal a seu favor. Começando
pelo básico e evoluindo conforme a maturidade e ambições do seu negócio. Um
prato de feijão e arroz também mata a fome. Importante que o empresário entenda
que a tecnologia está aí para lhe ajudar - depende muito mais da fome e do
tempero que ele quer dar.